Olhando para as possibilidades em cima da mesa, acredita que um governo PSD-CDS com apoio do PS ou um do PS com apoio do PCP e do BE poderá sobreviver quatro anos?.Possível é, mas não será fácil. O essencial para um governo desses se poder constituir é António Costa explicar muito bem porque é que não aceitou as condições e a negociação final que lhe foi proposta pelo Dr. Pedro Passos Coelho - ainda não conheço os pormenores, as tais 20 medidas que ele propõe. Porque se o PS não conseguir explicar porque é que não favoreceu uma coligação ou um acordo à direita e optou por uma coligação ou acordo à esquerda, terá muitas dificuldades internamente e no seu eleitorado. Pese embora os dois parceiros tenham abandonado o radicalismo de que eram titulares, a verdade é que são partidos de protesto e que ainda não têm experiência governativa, e não será fácil este entendimento. Mas há outra razão adicional: para o Dr. Pedro Passos Coelho, se formar governo, vingar na Assembleia da República basta-lhe a abstenção do PS, seja na recusa de uma moção de rejeição do programa de governo seja na aprovação do Orçamento e de outros diplomas. O PSD e o CDS, com a abstenção do PS, fazem passar as suas iniciativas legislativas; o PS para fazer passar as suas iniciativas precisa do voto favorável do PCP e do BE - não lhe basta as abstenções. E isso é mais difícil..Estas negociações que António Costa tem promovido com os partidos de esquerda são mesmo para levar a sério ou estamos perante um bluff para conseguir cedência da coligação?.São para levar a sério. Ele está numa posição privilegiada, embora tenha perdido as eleições. Pode tentar aproximar-se quer de um lado quer do outro. E pode negociar com as duas hipóteses, com as duas partes, o acordo que considere melhor para os interesses nacionais e para os interesses do PS. Não acho que seja bluff. Se ele dissesse imediatamente que não ao PCP e ao BE - "não há nada convosco, não há conversa" -, ficaria numa posição negocial muito diminuída junto de Passos Coelho. O mesmo valeria se ele dissesse que não há acordo possível com a direita, ficaria numa posição muito difícil com os partidos de esquerda. Ele está a jogar muito bem. A explorar, assunto por assunto, as possibilidades de aproximação entre o PS e os dois blocos..Leia mais na edição impressa ou no e-paper do DN